Não acho que estranho seja a palavra certa. Talvez seja curioso. Não sei bem ao certo como definir o que sinto. Sei que temo as mulheres na mesma proporção que as amo. Sei que todos deveriam acreditar quando dizem que uma mulher consegue o que quer. Aprendi que nada é capaz de parar uma mulher determinada. Tentem se quiserem.
Daí vem meu temor e, simultaneamente, minha admiração. Esse sentimento antagônico faz com que eu consiga respeitar todas as mulheres que cruzam meu caminho, pois SER mulher é uma tarefa que, por si só, impõem e exige veneração.
Curioso seja, talvez, que todos os adjetivos existentes não sejam o suficiente para descrever o que é SER mulher. Ou criamos um novo dicionário ou aceitamos, todos nós, o fato de que a mulher simplesmente É e que ela vai SER cada dia mais.
Nesse primeiro post, eu faço questão de dividir um texto que, por muito tempo, pertenceu a um particular bastante intimista. O coloco abaixo porque, além de gostar muito da forma como Sérgio Gonçalves decorre sobre a mulher nesse texto, acho que ele esclarece muitas das minhas dúvidas. Espero que as reflexões feitas a partir da leitura de "O Único Defeito da Mulher" possam proporcionar um mundo de sensações na vida de vocês, assim como proporcionou na minha.
Sem mais, despeço-me.
“Se uma memória restou das festinhas e reuniões de familiares da minha infância, foi a divisão sexual entre os convivas: mulheres de um lado, homens do outro. Não sei se hoje isso ainda ocorre. Sou anti-social a ponto de não freqüentar qualquer evento com mais de quatro pessoas, o que não me credencia a emitir juízo. Mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos.
Tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar quieto observando a paisagem. Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das diferenças anatômicas. A fronteira era determinada pelos pontos de vista, atitude e prioridades.
Explico: no "córner" masculino imperava o embate das comparações e disputas.
Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna, meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor, o meu time é mais forte, eu dou três por noite e outras cascatas típicas da macheza latina.
Já no "córner" oposto, respirava-se outro ar. As opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir. Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques com uma falta de cerimônia que me deliciava. Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como fofoca. Discordo. Destas reminiscências infantis veio a minha total e irrestrita paixão pelas mulheres. Constatem, é fácil.
Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru, freqüentando e levando bomba no be-a-bá da vida, as mulheres já chegam na metade do segundo grau.
Qualquer menina de 2 ou 3 anos já tem preocupações de ordem prática. Ela brinca de casinha e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas. Ela pede uma bonequinha que chama de filha e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe veterana. Ela fala em namoro mesmo sem ter uma idéia muito clara do que vem ser isso. Em outras palavras,ela já chega sabendo. E o que não sabe, intui.
Já com os homens a história é outra. Você já viu um menino dessa idade brincando de executivo? Já ouviu falar de algum moleque fingindo ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando de meninos fingindo estar preocupados com a entrega da declaração do Imposto de Renda? Não, nunca viram e nem verão. Porque o homem nasce, vive e morre uma existência infanto-juvenil.
O que varia ao longo da vida dos homens é o preço dos brinquedos. Aí reside a maior diferença: O que para as meninas é treino para vida, para os meninos é fantasia, é a competição. Então a fuga os acompanha o resto da vida, e não percebe quanto tempo ele perde com seus medos.
Falo sem o menor pudor. Sou assim. Todo homem é assim. Em relação ao relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado. Sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes, ela inexistia.
Porque toda mulher é linda. Se não no todo, pelo menos em algum detalhe. É só saber olhar. Todas têm sua graça. E embora contaminado pela irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones de cafajestismo, sempre me apaixonei perdidamente por todas as incautas que se aproximaram de mim. Incautas não por serem ingênuas, mas por acreditarem... Porque toda mulher acredita firmemente na possibilidade do homem ideal. E esse é o seu único defeito.”
6 comentários:
Ué, e o defeito do Sérgio é acreditar que todas as mulheres são ideais, né? Que coisa... Acho bem ruim esse texto, Camila. Acho ruim primeiro porque o Sérgio é um péssimo exemplo desse meu gênero. Ele romantiza a figura feminina, e pra dar base à elegia, dá pau no masculino.
Vamo lá, só pra descascar um dos exemplos dele: ele vem com a fantasia de que enquanto os homens competem, as mulheres expressam seus sublimes sentidos com uma falta de cerimônia angelical. Mas vamo parar de besteira, né? Não vou dizer que os homens não competem. A gente compete sim, e quando não é sobre carro e mulher, é sobre a idéia mais brilhante, ou o argumento mais lógico, ou o pensamento mais sublime, ou a percepção mais auspiciosa. Também não vou dizer que as mulheres não são sublimes. Mas tem o mesmo nível de porcaria e de competição que os homens tem, seja em qual nível intelectual for. Na rodinha da balada, o equivalente aos boladinhos que ficam competindo sobre carros e mulheres, são as mocinhas que competem de quem é o cabelo mais bonito, de quem são os peitos mais redondinhos, de quem é o vestido mais deslumbrante, quem leva mais chavecos, quem dança melhor, quem flerta com o mocinho mais bonito, e por aí a estrada vai.
Digo, em marte e em vênus há tipos que vão do alfa ao ômega. Mas vamo parar de besteira sobre fantasias sexistas, né?
Tezão seu post, Camila. Dou pedrada pra levar também. E vem quente, viu?
Beijos sublimes.
Poxa, Camila... Difícil falar mal de um texto que te emocionou tanto quanto você fala no começo do post. Se você sente esse sentimento puro, um extase delicioso, de estar viva e apenas SER... acho muito bonito. Mas ele só é assim especial se você for mulher? Só mulher sente isso? Só a mulher É? Olha, digo que não. Todos NÓS somos. Mulher e Homem. E todos NÓS somos dignos disso. Acho a mulher um ser incrível. o homem também.
Concordo com o Victor sobre muitas coisas e discordo também em outras.
"Digo, em marte e em vênus há tipos que vão do alfa ao ômega. Mas vamo parar de besteira sobre fantasias sexistas, né?" Foi muito bem colocado. E fecho meu comentário com ela tmb.
É engraçado esse texto dele...dizer que toda mulher já nasceu sabendo, que brincava de casinha e acalentava uma boneca, com todo seu instinto maternal.
Eu detestava brincar de casinha. Brincar de ser dona de casa? How boring! Eu brincava de Barbie, com suas roupas e penteados, numa espécie de Melrose Place infantil. E já que não tinha Ken's suficientes, as outras Barbies ficavam no lugar e boa, sem amargar na solteirisse e solidão. Tbm brincava de desfile de moda, ao som de alguma música brega da Whitney Houston. But that's not the point.
O negócio é que toda criança vive um mundo de fantasia particular. As meninas durante muito tempo fantasiaram em ser mães e donas de casa, lindo! Enquanto os homens fantasiavam em ser pilotos de corrida, astronautas e jogadores de futebol. De certa forma, eu ainda vivo no meu mundo de fantasia, ainda quero brincar de desfile de moda por aí (Whitney Houston, no entanto, vou estar dispensando! hehe).
É verdade sim que a mulher tem um negócio muito particular. Mas concordo com o Aron, e todos nós SOMOS, indivíduos. Mas todo o indivíduo precisa quebrar a casca de descobrir-se sendo, descobrir o seu EU, que lhe faz feliz.
A Simone de Beauvoir diz que não se nasce mulher, torna-se mulher. E passou um tempo de sua vida e carreira explorando e questionando como realizar-se plenamente dentro da condição feminina. Acho que essa é a verdadeira questão para nós mulheres: olhar para os valores impostos a nós e ver o quanto disso realmente vai nos realizar como indivíduos ou não.
Mas nessa pira toda, vamos cada vez exigindo mais de nós mesmas...e dos homens não se exige mais nada, já percebeu? Nem sustentar a casa integralmente hoje eles precisam...
Concordo sobre a exclusão da competitividade. A competitividade feminina é muito presente, mas acredito que talvez tenha sido intenção do autor de não abordá-la.
Mas também acho que como as meninas nascem com um "brincar de casinha" (ou de barbie), os homens nascem sabendo consertar coisas (ou destruir coisas).
ah ...
eu achei joia!!
parabens, me entreteou gostoso!
Tô meio atrasada com as respostas, eu sei e peço desculpas.
Eu acho, sim, o texto do Sérgio idealizado, Victor e Aron, e, além disso, exagerado.
No entanto, enxergo o exagero como uma forma de caracterização de ambos os sexos, nesse texto especificamente, técnica bastante usada no teatro também.
Acho que as mulheres competem, que os homens também, mas é a essência da competição que me intriga. É o mundo do sentir versus o do pensar, do Apólo versus o do Dionísio. A Carol tem razão: os homens tem mais habilidades com consertar (ou destruir) as coisas, e acho que é justamente por isso.
Entenda, Carina, eu nunca brinquei de Barbie na vida. Com a mesma facilidade que você substituía o Ken por outras Barbies, eu substituía as bonecas por uma bola. Mas, mesmo assim, se jogassem um neném no meu colo, eu saberia como segurar, simplesmente por instinto. E nem filho eu quero ter...
A Simone de Beauvoir não disse que não se nasce mulher, torna-se mulher. Ela disse: "Se você não nasce mulher, torna-se", que é completamente diferente.
Eu defendo, sim, que a maioria das mulheres nascem mulheres, semi prontas, mesmo.
Espera-se muito da mulher hoje, porque nos deram a chance de competir de igual pra igual, e viram que somos muito capazes, que fazemos tudo e mais um pouco com um salto de 15cm caso necessário.
É isso.
Beijos.
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