Tudo começa quando sua mãe te deixa sozinha no salão para fazer luzes fininhas no cabelo. Claro que vai demorar e claro que você vai ter que ficar um tempão esperando até ser atendida. Senta na salinha de espera e entre revistas Caras e Contigos tem uma revista com uma mulher em seu melhor ângulo e um cabelão ousado que chama mais a sua atenção. Afinal, vivendo no mundo entre a Cláudia que sua mãe assina, e a Capricho que supre suas necessidades de 12-14 anos, você já sabe de trás pra frente tudo o que vai vir escrito. Então resolve se aventurar timidamente e pega a revista NOVA.
Lá descobre um universo feminino muito mais amplo que não envolve mais questionamentos do tipo “deixo ele passar a mão na minha bunda na primeira vez que a gente fica?”, mas sim, maquiagens fatais, roupas onde o contorno do corpo é minimamente bem exposto e...sexo, dicas de sexo, posições sexuais, fantasias sexuais, como ter prazer sozinha, como ter prazer com seu gato, como ter prazer a três e como ter o aquele negócio que faz você ter espasmos e a sensação de ver estrelas cadentes? Ah...orgasmo. Tudo estava ali bem explicadinho. Aquelas reportagens maravilhosas te intrigavam, e fazia você imaginar-se daqui uns anos como aquelas mulheres de NOVA.
Claro que rolava a maior vergonha de abrir descaradamente a NOVA no salão, afinal o que uma pirralha de 13 anos entende sobre tudo aquilo? O truque para não passar vergonha era folhear rapidamente e deixar a Caras do lado, aberta em qualquer página, pois, caso alguma senhorinha com bobs pequenos aparecesse era só jogar a NOVA de lado e voltar a ler sobre o novo casamento do Fábio Jr, mas o número da página da NOVA tinha ficado guardado em sua cabeça, quando o perigo passasse era só voltar para a reportagem de “como manusear perfeitamente o seu clitóris”, ou clítoris, como você achava que era a pronúncia.
E os três em três meses suficientes para fazer sua raiz aparecer finalmente chagavam, e era hora de saber tudo o que havia mudado no maravilhoso mundo das mulheres bem sucedidas, boas dona de casa que cozinhavam bem, que tinham namorados maravilhosos, roupas maravilhosas, cosméticos caros, conheciam as melhores baladas e faziam sexo prazerosamente por isso iam trabalhar com um sorriso no rosto na quarta-feira de manhã. Afinal, sendo tudo isso, ainda tinha muito mais estava por vir, era o seu futuro escrito. Quando a capa vinha com um carimbo em forma de beijo anunciando SEXO EM PÁGINAS LACRADAS você sabia que nunca aprenderia aquilo com Julia ou Sabrina nenhuma que vendiam na banca. Triste era quando as páginas estavam realmente lacradas. Como a japonesa do salão havia feito isso com você? E você se arrepende de não ter ido no coiffure novo da cidade que aquela beesha hype abriu, tinha certeza que lá as páginas lacradas estariam escancaradas. E dessa forma, durante vários anos, seu relacionamento com a mulher de NOVA vai sendo construído, uma relação íntima entre ela, seu espelho, e você.
Você cresce mais um pouco, passa pelos intensos primeiros semestres da faculdade, cresce mais um pouquinho e começa a trabalhar, não é tão bem sucedida assim, se compra roupas e maquiagens caras é com o dinheiro do pai e sua casa é uma bagunça porque o tempo supostamente livre que você tem ou faz o TCC ou quer dormir.
Nessa fase, começa a perceber que as edições são meio repetitivas e as 307 dicas de posições sexuais apenas revezam entre esquerda e direita. Seu mundo cai? Não, porque todo esse tempo que você ficou fantasiando que seria uma mulher de NOVA realmente tornou-se uma mulher suficiente madura para saber quão irreal a mulher de NOVA é. E quão é irreal é um aplicativo onde se coloca no Iphone e vibra conforme a música.
No fim das contas, a NOVA nada mais é a que a Playboy e a sensação de lê-la escondido quando se é menino e se tem uns 10 anos. Ok, quem não quer ser bem sucedida, boa dona de casa que cozinhavam bem, ter roupas maravilhosas, cosméticos caros, mas todos sabemos que não é com as dicas de NOVA que isso vai acontecer.
Mas que quebre o primeiro salto quem até hoje não se diverte lendo a NOVA que cumpre sua função fútil. A diferença é que ao invés de ler escondidinho você chega ao salão para retocar suas pontas clareadas e pergunta: Já chegou a NOVA desse mês?
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3 comentários:
Adorei Carol! Acho que a situação NOVA jea aconteceu com todas nós...
pois é, nenhuma mulher está imune a revista NOVA...
gente, eu ri mt!
hahaha
a NOVA, e as descobertas ......
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