Eu gostaria de ter te conhecido, Bernardete. Gostaria de saber da mulher que tu és, gostaria de ter ouvido as tuas palavras; sábias ou não, amorosas ou não.
Carregaste o meu pai na tua barriga, mas eu nunca pude ser a tua neta. Apenas uma vez nos sentamos na mesma mesa para comer o bacalhau da Consoada. O Pastel de Belém que eu conheço é o da padaria da esquina.
Hoje estás quase no fim da tua vida, teus olhos quase cegos e impedidos de enxergar este mundo, de enxergar os Açores que é a tua terra, ou a Angola que guardas na lembrança, ou o Brasil, a terra dos netos que nunca viste crescer.
Acabamos de chegar neste mundo e logo te veremos partir. Veremos sem ver, sem dar-te um abraço, um adeus.
Gostaria que pudesses me ver agora, que pudesses ver a mulher em que, aos poucos, vou me transformando.
Uma vez me disseram que eu tenho o teu andar, a tua postura. Talvez eu tenha mesmo. Sem dúvida carrego dentro de mim um pedaço de ti, e por isso te digo "Obrigada!"; por isso eu te digo "Eu te amo!".
(Talvez alguns já conheçam este texto, é antigo, mas ainda gosto dele. Preenche bem este dia que era meu para escrever, mas que não tive tempo de preparar algo novo. Espero que gostem. Um abraço a todos.)
4 comentários:
Curti.
Poxa. Tão seu. Tão exposto.
Bacana mesmo.
A Bernardete é uma enorme personagem. Acho muito que você tem que conviver com ela, criando-a a partir de um universo de poucas experiências, mas muito imaginário nas narrativas.
Já adoro dela quase sem conhecê-la.
Lindíssimo, Ca.
E tenho certeza que ela te tem dentro dela também, de alguma forma.
Beijo enorme!
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