Não vou me estender aqui num discurso longo e vitimizado, dizendo que a mídia nos impõe esse padrão com suas celebridades e modelos, e todo aquele blá-blá-blá. Até porque não é isso que eu penso. Penso que se já partirmos da idéia de que o discurso midiático nos é imposto, é como se estivéssemos limitando nossas possibilidades de ver o mundo.
As revistas só publicam tais discursos porque há o respaldo das leitoras, porque é isso que queremos ler. Essa ditadura do corpo parece ser auto-imposta, a tal ponto que precisamos ser magras em todos os momentos. No Natal, por que não uma ceia light?, entoavam as revistas. Parece-me que estamos trocando a felicidade pela boa forma física.
Uma coisa que me incomodou muito foi esta capa de revista:
"A atriz revela como faz para se manter bela e em forma durante a gravidez".
Será que nem mesmo grávidas, quando nosso corpo NATURALMENTE engorda, afinal estamos carregando uma vida extra, teremos a permissão de uns quilinhos a mais? Até com um filho no útero precisarei contar calorias?
E mais importante ainda, alguém acha essa imagem "bela"? É assim que você quer seu corpo quando grávida - uma barriga esticada? É esse o corpo que você quer que sua esposa tenha, quando estiver carregando seu filho?
Quando olhei essa capa, achei que essa barriga bizarra, e me agrediu um pouco, como mulher. Senti que me tiraram o direito de ser uma grávida feliz e rechonchuda um dia, e me impuseram essa barriga de ET - tudo em nome de uma suposta beleza. Sou só eu que não vejo sentido em nada disso?
Na revista Women's Health do mês de maio de 2009 temos a chamada: "Você mais saudável, magra e sexy! Comece agora!". Adoro que ser magra e sexy aparecem como premissa para tudo. E como ser saudável é o equivalente de magra e sexy.
É engraçado que uma revista que deveria falar sobre a saúde da mulher - afinal este é seu título - só traz conselhos absurdos para alcançar um padrão de beleza. O próprio slogan da revista é "Você. Só que melhor". Fica evidente aqui que o que somos e que o corpo que nos foi dado pela genética é apenas um rascunho a ser corrigido. Sempre há espaço para "melhorar". Mas o que seria este melhor?
Nas páginas da mesma revista, encontramos a seguinte reportagem: "Você é uma mulher alfa?"
"Cargo poderoso, casa dos sonhos, corpo malhado, maridão, filhos - cada vez mais mulheres conseguem chegar ao topo. São as chamadas mulheres alfa, termo emprestado da biologia que serve para identificar o melhor da espécie, o líder nato, confiante e dominador. Mas essa eficiência tem um preço: muitas divas da perfeição estão cansadas demais para curtir o ápice. Mostramos como ser uma supermulher sem comprometer a sua felicidade - e a dos machos da espécie, claro."
Não sei nem por onde começar, depois desse maravilhoso texto. Nota-se que depois de tanta auto-cobrança para ser uma "mulher alfa", o interesse do macho vem em primeiro lugar, é claro, e é a sua felicidade que não queremos comprometer.
Na mesma reportagem encontro a seguinte estatística: "43% das mulheres da classe AB dizem abrir mão da perfeição devido ao excesso de coisas para fazer". Me pergunto aqui o que seria essa perfeição, e como os outros 57% estão indo em sua busca...
Tudo isso são apenas exemplos midiáticos para um questionamento: Será que não estamos nos cobrando demais? Precisamos mesmo ser uma supermulher invencível, bem-sucedida, mãe exemplar, esposa dedicada, corpo malhado, inteligente, salário alto, puta na cama e dama à mesa?
Sugiro que, ao invés da dieta dos pontos, da melancia ou do polenguinho, optemos pela dieta do amor próprio. E lembrar que a "perfeição" talvez não exista, mas que a felicidade é sim possível.
2 comentários:
esse assunto pesa... porque, apesar de tudo, quem de nós aqui nunca reclamou de uns quilos a mais e nunca invejou a "mulher perfeita" da capa da revista?
sobre a gravidez... um absurdo, sem palavras!..
Postar um comentário