sexta-feira, 16 de abril de 2010

Teria a revolução sexual sido um tiro no pé?

Bem afortunados aqueles que ainda não ouviram a frase “Você é muito legal, tô curtindo ficar contigo, mas é que... nesse momento eu não quero me envolver”. Se você ainda não ouviu, sorte a sua, mas acredite: logo chegará a sua hora.

Isso porque o “não quero me envolver” é o zeitgeist dos relacionamentos contemporâneos. E não apenas na faixa etária dos 20 e poucos anos – segundo minha terapeuta, mulheres de todas as idades fazem a mesma reclamação em seu consultório. Assim, fui levada a questionar: por que os homens não querem mais se envolver? E o que significa não se envolver? Como seria o relacionamento “não envolvido”?

Durante muitos anos toda a sexualidade feminina se organizou em volta do casamento: a mulher deveria manter-se virgem até as núpcias (o Código Civil inclusive permitia a anulação do casamento caso o homem desconfiasse que sua noiva havia sido deflorada por outro) e, antes disso, devia comportar-se adequadamente, dando-se ao respeito. O modelo da moça de família reinava a moral dos anos 1950 e aquelas que se permitiam intimidades com rapazes eram classificadas pelas revistas da época como moças levianas, aquelas com quem os rapazes namoravam, mas não casavam. As moças que tinham a intenção de casar e que cometessem deslizes, não ficariam impunes.

“Poderiam, por exemplo, ser muito solicitadas pelos rapazes, ter muitos admiradores, mas não casariam, 'pois o casamento é para a vida toda, e nenhum homem deseja que a mãe de seus filhos seja apontada como uma doidivana’ ”.
(Jornal das Moças, 1955)

Passaram-se os anos, a Revolução Sexual veio e foi e agora as meninas pra casar também transam. E também se sustentam, sem mais a obrigatoriedade de encontrar um marido, contribuindo para a construção de um relacionamento entre iguais, baseado na afinidade e afetividade, não mais na dependência. No entanto, parece-me que homens e mulheres se desencontraram no meio do caminho. As mulheres continuam querendo aquilo que sempre quiseram: amor. Enquanto isso, os homens parecem querer apenas a rotatividade. Talvez as mulheres também andem por aí dizendo que não querem se envolver, não sei. Mas desculpe-me: para mim esse “não quero me envolver” é medo. Medo do que acontece quando as coisas dão certo, medo de ser feliz ao lado de uma pessoa. E te pergunto: em troca do que?

Claro, nem todo sexo bom é pra casar, nem toda pessoa que te oferece uma boa conversa é boa de cama, e o cara bom de cama talvez não te respeite ou dê o carinho que você mereça.

Mas fica aqui o convite: dê uma chance para o envolvimento – você até corre o risco de ser feliz.

12 comentários:

Piccolo disse...

sou prova disso,
me dei a chance, de me deixar envolver...
e olha, ta me fazendo mt bem até agora!
haha

;)

Diogo Novaes disse...

Há um tempo atrás ouvi uma entrevista do filósofo Luiz Felipe Pondé em que ele discorria sobre o que acreditava ser uma das características do mundo moderno: a baixa tolerância à frustração.

Fomos educados para atingir um único objetivo na vida: ser feliz. E por mais que estar em um relacionamento legal seja muito positivo, isso dá trabalho e demanda tempo. Segundo Pondé, a baixa tolerância à frustração nos tornou mais egoístas. Só pensamos em nós mesmos.

Assim, faz sentido que muita gente (homens E mulheres) não queiram se envolver. Não se envolver significa poder trocar aquela relação que deixa de ser prazerosa (às vezes, rapidamente) com um mínimo de desgaste possível. É claro que não se envolver significa também não aproveitar integralmente o que de bom pode acontecer em uma relação a dois, mas acho que muita gente considera isso uma troca válida para ter um 'risco' menor de passar por uma decepção.

Carina disse...

realmente Diogo, estamos num momento individualista por demais e o que rege a moral agora é o EU. Enquanto o romantismo do século XIX pregava o "sofrer de amor", hoje ninguém quer ficar na fossa.

Engraçado é que enquanto cada uma das partes cuida de seu "eu", que não quer ser frustrado, acabam frustrando o "nós". É difícil mesmo, num relacionamento, encontrar o equilíbrio entre agradar o parceiro, mas sem passar por cima da própria individualidade, dos próprios valores, anulando-se.

Agora, quando alguém descobrir como sair de um amor sem frustração, me avise. E, se no fim tiver tudo ok, acho que nunca foi amor em primeiro lugar né?

Lindo seu comentário. Mais pertinente, impossível! Obrigada!

Victor Meira disse...

Todo cara quer dominar o mundo. Ou um mundo. E acho que toda menina também quer (chame esse mundo de "relacionamento", se quiser). E acho que a maioria acredita que sem envolvimento é mais fácil. Queiramos ou não, um parceiro sempre é um limitador, seja de ações, moral, ou de liberdade.

Né?

Mel Cerri disse...

Victor, como te disse pessoalmente, discordo da sua opinião. Na minha visão, todas as situações apresentam limitações e, em contrapartida, novos cenários/oportunidades. Na solteirice, na falta de envolvimento, não há a cumplicidade, não há o companheirismo, a segurança, todos presentes nas relações (sadias) de forte envolvimento emocional. Sem dúvida que há limitadores nessas relações. Mas assim como na solteirice não se tem muitas das oportunidades emocionais que aparecem num relacionamento.

Como estou "fora do mercado" há algum tempo, não vou opinar com a maior segurança do mundo. Eu vejo que algumas das minhas amigas até usam o discurso "não quero me envolver". Mas quando a situação se apresenta, antes que se perceba, elas já estão babando, apaixonadas. acho mesmo que é parte da natureza feminina buscar o romance, o amor, mas acima de tudo, a segurança que uma relação estável oferece. De verdade, é muito difícil encontrar (pra mim, pelo menos) uma menina que esteja 100% segura de sua felicidade como um ser solteiro, que não busca envolvimento emocional profundo.

Acho que a rotatividade é mesmo coisa de macho que precisa (por instinto, por opção, não sei) "polinizar" todas as flores do jardim. ;)

Carina disse...

Mel: realmente, é difícil encontrar uma mulher 100% segura como solteira. Não ficamos lamentando pelos cantos e vamos levando a vida, explorando todas as possibilidades, mas abertas ao que o destino pode trazer. Em minhas leituras de NOVA (objeto da minha mono), tenho encontrado muito o discurso "faço sexo de maneira tão desapegada quanto os homens", "quero só o meu prazer", etc, mas cá para mim essa filosofia não deve funcionar por muito tempo...

Victão: que visão mais foucaultiana dos relacionamentos! Jesus!

Antônio Sozinho disse...

Rotatividade? sei não, pode ser um momento específico da pessoa mesmo...

Renata disse...

homens tem milhões de epermatozóides a serem despejados. Quanto mais depósito, melhor pra alimentação do instinto.
Mulheres tem só um útero, só uma vontade incontrolável de transar por mês.

cabe a nós todos lidarmos com esses fatos.

a vida é mais simples, gente.

ItaloRdz disse...

Pra falar a verdade eu estou na merda... sabe o cara do filme 500 dias com ela.. pois é. Mas o motivo da separação foi a distância entre agente... eu apenas concordei e estou aqui.. não quero mais nada sério pelo menos por enquanto. Quero me envolver mas não o suficiente para ter longas DRs disso e daquilo..

Victor Meira disse...

Visão foucaultiana?
Como é isso, Carinola?

Renata Asato disse...

Engraçado, eu só encontro os caras que QUEREM MUITO se envolver! rs

Lucas Parreira disse...

Muito bom.
Em parte, apesar do romantismo que eu tento com o tempo ir eliminando, acontece isso mesmo.
Medo de algo que dá certo. As vezes, é mais seguro se apegar a única coisa que se tem nas mãos: pular fora!
Mas um dia, a ficha cai, e percebe-se que não há bem que sempre dure, nem a mal que não se acabe. O negocio é seguir em frente. Melhor, junto!