“Um carro, que rodou entre destinos específicos por toda sua existência automobilística. Levou crianças para o ginásio, jovenzinhos para o colegial, guiou rapazes para faculdade. E agora ele pegou seu primeiro acesso para a rodovia. Uma estrada aberta, plana, com um misterioso horizonte para alcançar e com mais cobranças que os pedágios da Bandeirantes. E quem dirige é você.”
Pois olha lá eu na minha caranga, os vidros abertos, o cotovelo esquerdo tomando vento, os óculos escuros emprestando o intrigante mistério de não saber direito para onde meus olhos focam. A minha frente, o mesmo horizonte de expectativas. Tudo certo pelo incerto.
O sentimento do princípio de aventura quando se tem um diploma na mão ainda é o mesmo, mas com algumas diferenças. Agora, existe a consciência de que todo carro precisa ser abastecido com responsabilidades.
Para seguir viagem o tanque precisa ser completado com vida adulta, aditivada.
Se antes o receio era pelo incerto, hoje é pelo medo de ficar por um desses Postos e nunca mais sair. De se deixar vencer pela comodidade da rotina, esquecendo que o real propósito é chegar a um destino que recompense as noites dormidas planejando a viagem. Deixar o necessário crescimento profissional e os dias de sol dos finais de semana – sim, até ele - tomar o foco de pelo menos tentar realizar o que você acha que seria bem legal se acontecesse.
Anseio de encostar num munícipio à beira da estrada e nunca chegar na cidade que deseja. Mesmo sem ter certeza qual delas é.
E agora, enquanto o carro acelera e os olhos de gato passam zunindo pelo chão, uma curva surge no horizonte e aparece claramente no mapa e nos portas-retratos da família.
Amigos que se casam, primos que fazem filhos. Que assumem a responsabilidade de uma família. E deixam uma pergunta. Será que depois dessa curva muda-se o meu trajeto? Melhor: será que ela faz parte do meu plano de viagem? O fato é que ainda tem tempo para esta curva dobrar pelo meu caminho. Mas uma coisa é certeza: seja quão acentuada ela for, daqui a pouco ela chega para mim.
A verdade é que não sei para onde sigo. Não existe voz artificial de GPS para dizer o caminho. Aliás, até perderia a graça da aventura. O jeito é manter as mãos no volante e continuar seguindo, com o porta-mala carregado da bagagem de anos bem vividos.
Sempre focado no trajeto planejado, aproveitando as belas paisagens e encarando os percalços dessa viagem da forma mais leve possível, mesmo de tanque cheio.
4 comentários:
Muito legal, Fubim. Realmente, estar nos 20 e poucos anos é uma sensação muito particular. É agora que decidimos o rumo para o resto da vida, e qual modelo seguir.
Casar e ter filhos?
Casar e não ter filhos?
Não casar?
Não casar e ter filhos mesmo assim?
e isso é só no âmbito afetivo-relacional...ainda tem todas as OUTRAS e infinitas escolhas...
Às vezes, por um lado, sinto que isso é meio angustiante, às vezes bate um peso. Mas, por outro, é bom. Ainda somos jovens o suficiente para sonhar.
E essa crônica com cheiro de auto-ajuda, Fuba?
Gostei demais, se fosse parte de um livro de auto-ajuda, seria um raríssimo e ótimo livro de auto-ajuda, eu diria, Victor. heheh
Arrepiei em cada linha,
Ah, e quantos pedágios!!!
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