
Eu achava que me aceitava quando era nova.
Mas me escondia atrás das roupas, sempre exageradas, gritando: "OLHA COMO EU ME ACEITO, OLHA OLHA!"
Deus é bom e o tempo passa.
Agora, no lugar da montagem, só preciso me sentir minimamente bonita, ato de uma plenitude muito simples, e, justamente por isso, maravilhosa.
Mas é algo que não se pode dividir.
Em Sidarta (do Herman Hesse, leiam por favor), o protagonista frisa que a sabedoria é algo que não se deve proferir, ou corre-se o risco de se soar tolo.
Pois da mesma maneira se dão os auto elogios.
Amar-se é uma sabedoria, e parece que ainda pouco disseminada.
Especialmente entre as mulheres.
Deu-se outro dia no boteco, o seguinte episódio:
Entrei no banheiro com a calça legging a que almejei o dia todo.
Ali havia um espelho enorme - o sonho de toda mulher ao entrar num banheiro de balada.
Amei.
Podia ver minha bunda toda, recortada pelas mãos do artista minimalista da genética, que também não era chegado a texturas, e por isso não me deixou nem uma celuilitezinha.
Aos finais da calça apertada, os tornozelos estavam cobertos por uma bota um tanto mais grossa que os próprios, dando a impressão da perna estar um pouco mais grossa do que de costume.
Na blusa branca, viam-se os gomos da barriga e os seios médios repousavam perfeitamente no sutiã de bojo.
Esta era eu, satisfeita diante do enorme reflexo.
Pois quis dividir essa alegria com as outras cinco colegas que se encontravam no mesmo recinto.
- ADORO SER MAGRA!
e um silêncio mortal se seguiu, junto com os olhares de ódio cortando toda a minha pele.
Sangrando, sai de fininho.
Do mesmo jeito em que me arrependi te ter contado a um amiga que eu havia comido dois pacotes de Cheetos Requeijão sozinha e ficado muito feliz por poder fazer isso.
E fiquei com a lição: Sentir-se gostosa é um ato solitário.
Mas mais do que isso, tem sido solitária a descoberta de que não dividir conquistas é necessário para que elas possam perpetuar dentro de mim e do Universo.
Esta é uma grande lição da Guerreira, que tenho treinado bem.
Quanto à autoconfiança, não acho que seja um 'mal' raro que acomete poucas mulheres.
Clarice Lispector já disse em seu livro "Só para mulheres":
TUDO TEM JEITO
Você é 'moralmente' tão antiquada a ponto de considerar vaidade feminina uma frivolidade? Você já deveria saber que as mulheres querem se sentir bonitas para se sentirem amadas. E querer sentir-se amada não é frivolidade.
Se você pensa que 'nasceu' assim , e não tem jeito, fique certa de que está é desisitindo de alguma coisa muito importante: de sua própria capacidade de atrair. Quer saber de uma coisa? Obesidade tem jeito. Cabelos sem vida tem jeito. Rosto sem graça tem jeito. Tudo tem jeito.
O remédio? O remédio é não ser uma desanimada triste. E o outro remédio é ter como objetivo ser um 'você mesma' mais atraente - e não o de atingir um tipo de beleza que nunca poderia ser seu. Portanto, aguardo as amigas com amor próprio.
E aguardo que se formem muitas.
Por favor.
Amor.
Chá.